Opiniões sobre Belo Monte

Tenho visto muitos posicionamentos públicos de pessoas defendendo o Homem em equilíbrio com a natureza, ser contra Belo Monte e/ou Código Florestal, mas a maioria apenas como comportamento da moda, pois são posicionamentos isolados e contraditórios com a vida e posição politica real destes tais paladinos da “justiça”.

A questão energética exige um posicionamento da sociedade sobre que sistema irá manter este equilíbrio entre o homem e a natureza. Para isso, temos que ver o problema energético por dois ângulos opostos: a OFERTA de energia e a DEMANDA.

Hoje, quase todos se posicionam (como moda e sem nenhuma profundidade ou consequência) sobre como resolver o problema da oferta de energia, mas o futuro da humanidade está condicionado à resolução do problema da DEMANDA, do modelo capitalista de crescimento perpétuo, como citado no debate: http://ecventosuivantesdiretrizes.blogspot.com/2011/11/debate-sobre-o-significado-do-movimento.html . A seguir, uma análise sobre estes 2 aspectos.

A DEMANDA de energia

Hoje se fala que em dois mil e tanto seremos 7 bilhões de habitantes mais outros tantos bilhões. Na crise econômica atual, a possibilidade da Europa ficar os próximos 10 anos sem crescimento é tida como catástrofe, o crescimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China) como sinônimo do novo poder e, assim, tudo se submete a esta fórmula do crescimento capitalista perpétuo. Quem cresce mais está no caminho certo.

Ora, a história do homem é a própria história de uma relação de destruição de nossas matas e animais. Com o capitalismo, esta historia só foi reforçada, mas não havia a noção que temos hoje de que os recursos naturais são escassos e requerem um uso sustentável, assim como não havia a ligação direta entre a sobrevivência do Homem no planeta com a manutenção destes mesmos recursos. Mesmo assim, nada é feito para frear este sistema que consome sem nenhum planejamento os recursos naturais. Vemos apenas bancos, montadoras, SWUs da vida e toda sorte de empresas fazendo propaganda de seus produtos como se fossem os campeões da conservação ambiental, mas nada de sustentabilidade real. Parece até piada ver um banco falar de sustentabilidade.

Até uma criança pode entender que sem um freio na demanda de energia, não haverá sustentabilidade. A produção dos diversos tipos de energia cusam impactos ambientais, sem falar dos desastres (nucleares, de vazamento de petróleo...).

Então vejamos as alternativas para reduzir a demanda de energia:

Melhor utilização dos recursos – Sem dúvida, alguma coisa pode e deve ser feita de modo a utilizarmos melhor o que temos, mas é obvio que isso tem um limite muito claro. Tanto usando tecnologia nova ou métodos de racionalização de consumo, pouco resolveremos e a demanda tenderá a crescer.

Alguns poderiam dizer que não devemos duvidar do homem e suas habilidades que trazem tecnologias e estas resolverão tanto na demanda como na oferta. Isso na teoria poderia ser aceito, mas nunca sob os prazos ditados pela competição global.

Acabar com o modelo do crescimento perpétuo – Somente um novo modelo de desenvolvimento econômico/social do homem poderá resolver em definitivo a equação da sustentabilidade, do saco sem fundo do consumismo. Sem esta medida, tudo depende da oferta de energia.

Aqui uma primeira observação sobre os tais defensores do futuro do planeta. Embora o conceito de sustentabilidade seja algo que podemos classificar como pragmático (por ser mensurável e dentro de um modelo concreto), muitos destes “ecopaladinos” classificam qualquer discussão neste sentido, o da DEMANDA, como ideológica e sequer se dão ao trabalho de analisar estas questões, afinal o “capitalismo é o sistema definitivo do Homem”, mesmo que este definitivo seja a sua própria falência.

A OFERTA de energia

Pelo modelo atual, quase todas as alternativas de equacionamento energético estão focadas na oferta de energia. Então vejamos as possibilidades.

Pelo que sei (posso estar desatualizado), tínhamos dois conceitos para compor a matriz energética, a energia firme e a energia intermitente.

A energia firme pode ser hidráulica ou térmica (nuclear, carvão, óleo ou gás). Para um sistema ser considerado confiável (livre de apagões), este deve ser composto majoritariamente por esta energia, pois pouco depende de variáveis climáticas. Todas agridem o meio ambiente, sejam as hidroelétricas na formação dos lagos e inundações, as atômicas (basta lembrar dos acidentes) e as que emitem carbono. Portanto, aumentar estas fontes (para fazer frente ao crescimento perpétuo) significa agredir o meio ambiente. Isto sem mencionar que somente são adotadas no sistema atual as alternativas competitivas, pois o resto é classificado como opção ideológica.

A energia intermitente pode ser eólica, solar e biomassa. Estas são sazonais, abundantes apenas em partes do ano. Apesar de colaborar pouco para a confiabilidade do sistema elétrico como um todo, esta energia, quando abundante, entre outras, pode manter usinas térmicas paradas e colaborar no corte de emissões de gases. Portanto, para manter a matriz energética confiável, temos que aumentar a energia firme quando aumentamos a energia intermitente, “para mais energia solar, mais Belo Montes equivalentes”.

Se mencionarmos custos (base para a competição mundial capitalista, onde um país pode/deve ou se sobrepor a outros ou ser submetido), os da energia intermitente são muito superiores aos da energia firme. Montar uma matriz focada na energia intermitente, além da questão da confiabilidade, significa montar um modelo fadado ao fracasso econômico, obviamente dentro do modelo capitalista atual.

Como se pode ver e todo mundo, no fundo, sabe disso, aumentar a oferta, necessariamente, significa diminuir florestas, emitir gases e tantos outros problemas de sustentabilidade. É bom lembrar que a Usina de Belo Monte prevê uma produção de energia média anual de 4.571 mW e uma área inundada de 516 km2 (metade desta área já é alagada pela calha do rio). Já para uma usina eólica produzir a mesma quantidade de energia média anual de Belo Monte (4.571 MW) teria que ocupar uma área de 1.306 km2, mais que o dobro da área de Belo Monte.

O pé em duas canoas

O meu interesse neste debate, além do debate do futuro do Homem em si, está em tentar fazer um chamado à coerência, pois tem muita gente com o pé em duas canoas. Defendem causas que só se resolvem com mudanças de regras, mas amam, usufruem do sistema e são incansáveis defensores da ideologia e sistema dominante.

Se meus argumentos não estão equivocados (podem e devem ser questionados, pois estamos num debate democrático), para ser contra a usina de Belo Monte é coerente que estes indivíduos sejam também a favor de uma solução na demanda de energia, uma ruptura com o sistema atual do crescimento perpétuo.

Agora, quem acha que o sistema capitalista mundial deve continuar, este deve ser a favor de Belo Monte ou desejar que o Brasil deixe seu processo de transformação de um país colonizado e ultra dependente para uma nação com a envergadura de ser parte de um BRIC e todo o relevo que tem o país hoje.

Se o debate de Belo Monte e do Código fosse fruto de um acordo internacional (tipo protocolo de Quioto), tudo bem, pois dentro do sistema ninguém perderia competitividade. Agora, ver defensores do sistema posarem de ecopaladinos como Al Gore e tantos outros nos FBs da vida é para desconfiar.

Porque não acontece um movimento proporcional ao de Belo Monte (inundação de 516 km2) para a questão do desmatamento da Amazônia que só em 2008 foi de 11.968 km2 para pastos gerando desertificação e uma real tragédia ambiental? Porque tantos estrangeiros “ecopaladinos” e presentes na Amazônia?

Quem quer energia alternativa dentro do sistema, deve se engajar na luta por novos acordos internacionais ou torcer para que o petróleo só seja vendido acima dos US$ 110 o barril. Do contrário, pergunto: como ignorar competitividade numa sociedade competitiva? Ignorar isso é para quem quer que o Brasil fique como país subdesenvolvido ou quer outro partido no Governo Federal. Neste caso, deixem de ser manipuladores e não encham o saco!

Quem é a favor do crescimento perpétuo deve assumir esta condição e entrar no debate de Belo Monte apontando irregularidades e sugerindo melhorias no projeto e o mesmo procedimento com o código Florestal, sem entrar em campanhas vergonhosas que manipulam e defendem interesses escusos (ver: http://www.youtube.com/watch?v=feG2ipL_pTg&feature=colike ).

Como provocação, fico por aqui!

Pelo fim do crescimento perpétuo!

RFachini

Guta Bodick Acrescento o link abaixo, do Leonardo Boff: outra abordagem sob a mesma temática. Vale a pena conferir!
http://leonardoboff.wordpress.com/2011/10/16/a-ilusao-de-uma-economia-verde/